Alguno de los términos más buscados
A produtividade do Infarmed tem sido prejudicada pela forma como aquele instituto está organizado e pelas "debilidades significativas" que tem ao nível dos sistemas de informação. As ineficiências estão a atrasar a resposta ao crescente número de pedidos de avaliação de medicamentos e tecnologias de saúde. Uma avaliação externa independente, realizada pela Porto Business School (PBS), INESC-TEC e o Instituto SuperiorTécnico de Lisboa, para o grupo de trabalho (GT) criado pelo ministro da Saúde para avaliar o impacto da deslocalização do Infarmed para o Porto, encontrou vários problemas na estrutura fisica e organizacional que urgem correção, independentemente da mudança para a Invicta. Conclusões que ajudaram o GT, liderado por Henrique Luz Rodrigues, ex-presidente do Infarmed, a considerar que a deslocalização poderá representar uma oportunidade de melhoria e trazer beneficios para o instituto. O documento que vem anexo ao relatório final do GT analisou a estrutura organizacional do Infarmed e o desempenho operacional nos últimos anos. A avaliação técnica revela uma estrutura complexa, burocrática que está dispersa por quatro edificios, mas também muito compartimentada no interior de cada um deles, prejudicando a interação entre trabalhadores. Ao nível dos sistemas de informação, as deficiências saltam à vista. "O parque tecnológico do Infarmed, apesar do forte investimento verificado nos últimos anos [em particular a partir de 2015], apresenta debilidades significativas em termos de atualização tecnológica". O instituto tem "uma forte dependência do trabalho em papel em todos os departamentos, o que limita o nível de eficiência operacional", lê-se no relatório, liderado por Américo Azevedo, da PBS. Desde 2015, o Infarmed gastou mais de 8,2 milhões de euros em desenvolvimento de software, mas parece que muito ainda está por fazer. O documento realça, por exemplo, que não é possível seguir os processos em curso em tempo real, o que gera dificuldades e ineficiências.
Numa análise ao desempenho dos serviços do Infarmed, os especialistas observaram na Direção de Avaliação de Medicamentos (responsável pela introdução dos fármacos no mercado) "um número elevado de processos em curso em alguns dos procedimentos, nomeadamente nos nacionais [o que] provoca um aumento do tempo de atravessamento [resposta] e o não cumprimento dos prazos em alguns dos casos". Na Direção de Avaliação das Tecnologias de Saúde, "os processos avaliados fora do prazo limite legal têm aumentado ligeiramente" e há também um considerável número de processos em curso, o que faz aumentar os tempos de resposta. Na Direção de Produtos de Saúde foram detetados problemas com a codificação dos dispositivos médicos, enquanto na Divisão de Inspeção e Licenciamentos há "um grande número de processos em passivo, ainda em Excel e papel, dificultando significativamente o desempenho operacional". O relatório aponta ainda como barreira à eficiência a "muito elevada taxa de absentismo (7%)" e a "muito elevada taxa de rotatividade" dos trabalhadores.
Os trabalhadores do Infarmed contestam as informações do relatório do grupo de trabalho, que aponta vantagens na mudança para o Porto. Dizem que são "vazias de conteúdo" e pedem celeridade ao Governo na decisão, uma vez que estão a viver uma situação de "agonia". Os representantes da Comissão de Trabalhadores (CT) – que ontem apenas conheciam o que a Comunicação Social divulgou do relatório – prometem um retorno de 15 a 20 milhões de euros, alcançado em dois a três anos, se o Infarmed receber "um terço" dos 17 milhões de euros necessários para a transferência. E que, segundo o relatório, só ao fim de 15 anos permitirá poupar 8,4 milhões. O dinheiro (cerca de seis milhões de euros) seria investido na "contratação de pessoas e na estabilização do Infarmed", explicou Rui Spínola, presidente da CT, e assim permitir à entidade receber mais processos de avaliação, aumentando a receita que é atualmente de 56 milhões de euros/ano. A criação de um polo no Porto, sugerido pelo Conselho Diretivo, também é defendida. Ali se concentraria, entre outras valências, uma extensão da unidade de inspeção aos medicamentos. Este polo serviria também para acolher as novas competências a que o Infarmed aspira, como a fiscalização dos suplementos alimentares e produtos dietéticos.
*In Jornal de Noticias 27/06/2018